sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos
nas janelas dos autocarros mesmo naquele muro arruinado
por entre anúncios de aparelhos de rádio
e detergentes na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher se encontraram
num bar de hotel numa tarde de chuva entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo
da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
[...]

a invenção do amor
Daniel Filipe

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