domingo, 21 de dezembro de 2008

"[..]na intimidade, marcá-la-iam
com os dedos no flanco. [..]
amava-a cheio de compaixão,
como se amam pêndulos e planisférios.
Zerbino ejaculava sem luz no corpo de
mulheres sem nome; a sua carne estremecia
sem alegria ou comoção.
[...]depois regressava a casa por ruas estreitas.
Imaginava gondolas intrínsecas na periferia da
infância, como cogumelos sob o silêncio ensimesmado de árvores elegíacas ou de
água turba na densidade amarelada de um domingo do tempo comum.
Concebia, na telúrica destreza dos dedos, o corpo da mulher.
[..] Arremessava a noite contra o corpo da mulher
trazia memórias difusas de dedos exiguos e pálpebras lapis-lazuli,
transparência fragmentadas na superfície da água do princípio,
metáforas inumadas na densidade dos líricos dedos das mãos contra a porta.
Zerbino, que se abeirara de abismos poéticos e que escutara cantos glaciares,
regressara a casa."

Zerbino
José Rui Teixeira
foto: nelson d'aires

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