terça-feira, 23 de dezembro de 2008

São estes os pontos de contacto
entre a beleza e a esquizofrenia
Não fosse esta tristeza
sumariamente ambígua
e o anjo ausente deixasse de
existir no que eu escrevo,
nada seria tão belo e tão terrível.
Estar perdido não significa
não reconhecer a beleza
Amo-te dezenas de vezes
e de mil maneiras diferentes,
carrego nos dedos este inebriamento
de mel com o teu nome e o teu odor
O teu vestido vermelho..
êxtase intransponível dos teus braços
em que os segredos se acumulam
Bastará não deixar de passar os dedos
sobre o mar para depositarmos
uma parte do nosso corpo.
Coisas admiráveis, indeléveis,
onde o escopro das mãos submete
à alma a intranquilidade, a finitude
do olhar, a transfiguração da inocência.
Vejo todas as coisas como a irrealidade
da luz filtrada sobre o peso inverosímel da neblina.
A música envolve a água, como uma
linha de pássaros dentro da cabeça
Enquanto a neve cai e flutua no horizonte
o bosque cintilante.
A possibilidade de ter sido aqui
que nos descobrimos nus sob a tempestade
Vamos, que o corpo aceda a esse lugar secreto.
Ainda que invisível
Ainda que inaudível

o bosque cintilante
amadeu baptista
foto: francesca woodman

Nenhum comentário:

Arquivo do blog