domingo, 11 de janeiro de 2009

observo fotografias como quem
filtra o instante e conto histórias
para não esquecer que a vida
é algo que se perde
à medida que as palavras se gastam.
Imagino lírios a crescer sobre o calor
do meu corpo e crianças a brincar por perto.
transfusão de vagas monstruosidades
como memórias de infância
ou melopeias.
mialgia de ser eu dormindo
em posição fetal ou alguém
que acreditasse que o universo
é uma caixa de brinquedos.
(a magnólia floriu este inverno
e eu não sei como dizer-te
que me comove ainda que dê flor).
devolve-me algo intacto como
o teu corpo na superfície intocável
do desejo de te encontrar.
porque sentir é compreensão excessiva
dos braços contra a luz,
imagem subterrânea do desgaste do desejo,
na complexidade circular do pensamento,
na demorada perplexidade que
nos expõe à insónia, na boca de alguém
à procura de algo por que valha a pena morrer.
decompõe a murmuração e eu,
desenho territórios e encontro
demónios nas encruzilhadas.
nenhuma das tuas palavras sirva para dizer
a desconstrução compulsiva dos abismos.
corro em círculos.
trago nas mãos espelhos suspensos,
falo da brutalidade efémera da asfixia,
da violência redimida das minhas mãos
sobre os teus cabelos de asa.


melopeia (adapt.)
josé rui Teixeira
foto: francesca woodman

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