sábado, 17 de janeiro de 2009

passei duas noites a perguntar a mim mesmo :
que faltará ao meu quarto ? por que razão me incomodará tanto aqui estar ?


um encontro fortuito e efémero.

trazia um bonito chapelinho amarelo e uma encantadora mantilha negra.

estive quase a arder e tive bastante medo.

ele, solitário e tímido, que deambula por entre a multidão
como um fantasma e se exila no mundo do sonho
para fugir ao prosaísmo do quotidiano.

- mas como ? por quem se apaixonou então ?
- por ninguém. por um ideal, apenas, por aquela que em sonhos me visita.


ela, momentaneamente desesperada,
procura a salvação das suas frustações através do amor.

via abrir-se uma janela em cujas vidraças haviam tamborilado uns dedinhos delicados.
que força terá feito brilhar estes olhos pensativos e tristes ?

arrebatamento de um minuto..efémera beleza.
e lamentamos não termos sequer tido tempo de amar.

entre eles, estabelece-se, durante algumas noites,
o diálogo-confissão,
com o estranho compromisso de não ultrapassarem
a fronteira da amizade fraternal.

- e agora, já me conhece ?
- um pouco. olhe, por exemplo, porque treme ?

não sei se já lhe disse alguma tolice. se assim aconteceu, diga-mo francamente, pois aviso-a de que não sou susceptível…


mas onde se situa a fronteira entre a amizade e o amor ?

terá sido pecado experimentar por si uma fraterna (com)paixão ?...desculpe, eu disse ‘compaixão’ambos acabam por admitir que a transpuseram.


meu Deus! um minuto inteiro de felicidade!
afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem ?..

- conheço-o como se fôssemos amigos há vinte anos..não é verdade que não me trairá ?
- juro-lho! ...



mas quando regressa aquele que para ela foi o primeiro amor,
despede-se do ‘amigo’, lamentando que eles
não possam fundir-se numa única e mesma pessoa para,
como desejaria, poder amar os dois
indivisa e simultaneamente.

então é possível ? será possível que não nos voltemos a ver…tudo ficará por aqui ?
é o seguinte : não posso deixar de aqui voltar amanhã. sou um sonhador.


Noites Brancas
Fédor Dostoievski

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