quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

quando era pequenina, devorava em silêncio
uma colecção de livros de pintura que o meu pai tinha na estante. gigante.
tinha uma adoração interminável
por aquela caixinha de cartão duro,
talvez a lembrar os brinquedos antigos,
de onde saíam oito livros, dos mais conceituados pintores renascentistas.
lembro-me de perder horas a fio com o Bosch,
absorvendo aquelas imagens tão intensas,
como se fosse o episódio mais interessante
da melhor história dos livros pequenos.
folheio agora a colecção e não sinto
o fascínio do silêncio parado que retenho na memória.
o imaginário do Bosch pairava nos corredores
das vésperas dos almoços na minha avó,
quando o meu tio pintava telas enormes
de pinceladas esquizofrénicas.
gostava de me sentar na cadeira que ficava
de frente para as pinturas e povoava aqueles vermelhos fortes
com os anjos que ouvia ao longe, das conversas à mesa.
tinha imensa curiosidade sobre 'Gabriel' e acho, agora,
que faz todo o sentido este apelido redentor
numa família tão pecado.
à noite, tenho miragens sobre esse
'lado do espelho que não é o outro'.
foto: martikson_'falling asleep'

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