quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

não sei muitos tecidos sobre a pele.
o dia coagula azul. assim
na periferia de uma mulher.
pele. para absorver.
quando ela fala tem o mar dentro.
essa obsessão aquática. uma
quase orgia. quase doce.
corro todos os riscos de anacronismo assim.
quando a tarde vai morrendo
no vagar mal iluminado dos dedos.
ali deixada. a mulher. aquela mulher. dizê-la.
nessa invasão irreal dos ombros.
ausente silêncio de toda a tarde
construindo o corpo.
circum-navegação da paz. nunca tocada.
tem a mão fechada para não entrar o ar.
não sei dizer o mais porque não vi.
dos olhos dela. desdobrando-se sonhada.
se eu não soubesse o que dizer-te
e despisse o teu corpo. devagar.
onde as minhas pernas também.
como um jardim húmido. aqui.
e eu grande.
de ti quando te deitas repousa
um anjo sem memória. assim.
quero que passes pelo meu ventre.
e fiques. sim. fico. torno-me profunda: apenas pele.
o seu início nos pulsos.
as tuas mãos resvalam entre o ar e a perfeição.
tu sabes. tu. afastas-me da dor como
das brincadeiras infantis e incompletas.
por isso venho.
para memorizar tangerinas com
pingos gordos de groselha
numa luz amarela de inverno.
torna-se quase impossível pensar quão
assustadoramente fácil é a morte.
a lentidão dos gestos.
os seus vestígios materiais.
a sua inaudível voz.
como marcar a distância.
também a bifurcação da paisagem.
eu sei que vou amar-te talvez até
suspensa em gritos de pássaro:
o corpo que amanhece o azul.
abreviado fica apenas o mar.
queria um jardim suspenso. queria.
sonho muitas vezes um sonho de mim
despindo-me devagar.


lindíssimo..
entre o ar e a perfeição (adapt.)
teresa leonor do vale
foto: martikson_’shadow of night’

Nenhum comentário:

Arquivo do blog