sábado, 7 de março de 2009
amo, adoro, idolatro, devoto-me,
emociono-me, extasio-me, anulo-me,
guardo-me, cuido-me.
dois bilhetes e um lugar vazio.
é assim ela. réplicas, tréplicas que
nem sei se goste ou se sofra.
digo-lhe que vou tentar ser gente.
e peço-lhe desculpa.
‘não prometas’. e diz-me muito.
que também me gosta.
e o que escreve espanca-me.
lembra-se sempre do que sonha
e sonha todos os dias.
e eu, do fundo da vigília e
da insónia tento. tento tudo.
tento dizer-lhe que só quero viver.
essencialmente.
dormirmos; fazermos amor;
almoçarmos; acordarmos juntos;
jantarmos juntos;
tu cozinhas; eu cozinho;
conversarmos;
eu converso; tu conversas;
vermos os filmes um do outro;
pararmos; fazermos amor.
dizem-lhe que parece uma bailarina.
e eu digo-lhe que daquela gruta
por vezes sai música.
é só a água. são só os nossos ouvidos.
mas por vezes ouve-se.
e faço acordes para a dança dela.
de saudade igual e a procurá-la.
num sítio. na nossa cidade.
numa travessa em que cedo é feita mulher.
onde os corpos escorreguem líquidos pelas
paredes frias de inverno.
e acendam incêndios sempre que
fizermos amor.
na ficção de um dream recall, vêm-nos
imagens de um drive-in dos 50’s e
do fundo do negro absoluto do poço
fazemos juras de verdade.
e escrevemos nos vidros embaciados
um azul sem fim.
apaixonados, a fazer contraditórios,
não nos queremos devolver ao mundo,
a ninguém.
é aqui que ela me diz…
e é aqui que lhe digo ‘não digas’.
chiuuu…
porque há uma lista de coisas que
provavelmente acontecem quando
duas pessoas se apaixonam e eu,
vou riscando os itens dessa lista,
um após outro.
chiuuu…
deixo-te ir, agora.
vai.
foto: paulo pimenta
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