quarta-feira, 8 de abril de 2009

fim de tarde de incêndios.
caminhamos invisíveis,
habituando os olhos ao
brilho da luz que se refracta
nas montras. como
a alice dos dois lados do vidro,
que julga ser um espelho.
e o vidro é espelho.
não reflecte apenas o mundo,
impede-o de entrar pelas janelas.
‘fecha os olhos. ou não. tanto faz.’
jogos de mãos que percorrem
o interior do vazio.
e o exterior da pele.
pontas de longos dedos
tamborilam o tampo das
mesas de café.
à luz laranja das garrafas
falo-te da fragilidade do corpo
que culmina na dança.
e tenho medo de tocar-te nos pontos
mais frágeis. porque
o teu corpo só se ergue inteiro
quando te despedaças contra
os meus braços abertos.
enquanto dormias coloquei-te
sobre o mar.
e mergulhei de profundidade.
não conto a ninguém o que
vimos sob a pele nocturna.
o cérebro como uma medusa.
a pulsar contra a maré de músculos.
tremer de líquidos. apenas.
atravessei o quarto.
jornais pelo chão, pelo corredor,
enquanto continuavas
a boiar sobre a cama.
e o dia seguinte à loucura é
de grande desarrumação.
talvez por isso nos sintamos
desconfortáveis.
são os teus pulmões que

nos têm mantido à tona.
na dificuldade de movimento de
um corpo leve num mundo de
matéria densa.
‘não saias já. quero
convencer-te a ficar.’
mas quando amanhece
o amolador passa.
entre o silêncio e o encantamento

passa com a bicicleta pela mão e
a música repetitiva do seu

instrumento frágil
que perturbou infâncias.
e sobre as ruas começa a chover.
sempre foi fragmentária a
memória da imaginação.


fórmulas (adapt.)_tiago araújo

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