quarta-feira, 15 de julho de 2009

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ela ri. e vai abrindo lenhos no gesto.
como uma veia que entrasse pelo mundo.
ou um nervo, arrebatado à exactidão.
ela incorre na morte. apropria-se.
procede do horror. infrene.
ainda que o crime parta de uma

exterioridade pura.
trazes a noite encostada às têmporas.
por vezes, estás perante o discernimento como se entendesses.
ou como se a única contrição fosse a reincidência.
mas sabes que perante o propósito, a iminência é algo indefectível.
rejubilas sob mim como um animal na impunidade. tudo em ti convoca à predação.
mais que a impossibilidade do crime, a impossibilidade de abrandar perante ele.
abro as virilhas à soberba das facas. a lâmina corre no interior dos espasmos. e desenho a forma como o grito se abre. não há resistência ou retracção.
estou diante do abismo e projecto-me inteiro na heresia.
ela roda sob a língua como se o adestrasse. e uma menstruação metálica corre da boca. cospe. erguido das jugulares como a pura dicção do medo.
loucura à solta pela fábula. amor profundo pela impiedade.

disrupção (adapt.)
jorge melícias
foto: antichrist

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