quinta-feira, 3 de setembro de 2009

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o sofá de couro aderia-te perfeitamente
aos sonhos.
com asas grandes a arranhar o chão.
mastigavas a chuva até à foz da língua, com
o cuidado necessário que requerem as coisas frágeis.
tinha-te avisado [e tu não me ouviste] que
se morre lentamente de ar puro.
mas a noite sabe de ti tudo.
de há muito sabe que só os gatos pretos
guardam o sentido último do silêncio.
e como o tempo é simplesmente uma forma
de rosto assinado em branco, pintado de fantasmas nas

manchas dos muros, até à próxima curva de eternidade.
trazes no ventre uma luz vermelha para
acender infernos e parir estrelas.
no lago dos dias. no telhado dos olhos.
tão nua..
ficarias para todo o sempre plantada nesse jardim
sustendo com as mãos a garganta do mar.





a carvão (adapt.)
fernando de castro branco

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