sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Guardo-a num bolso descosido
como se fosse um menino. mais nada.
quero saber o que ela tem. ela tem
saudades da água funda. diz que a
água também tem uma primavera
e quese passa de estação quando se
muda de profundidade. diz que lhe
doem os cabelos enxutos. e que tem
saudades de quando se soltavam para
seguir o caminho que tinha o mar.
e que os fios molhados pareciam filhas
pequenas que íam atrás dela a nadar.
cada vez que a vejo, os meus olhos
esquecem-se. esquecem-se que podem
ver. fecham-se. desperdiçam-se. vez
após vez. perdem-se pela primeira vez.
esquecem-se que já a viram antes.
quando dorme, não acredita que tenha
estado acordada. quando se dá, não acredita
que possa pertencer a mais ninguém.
o amor não fala a quem o escuta.
a sereia não se deita, e eu não durmo.

(...)

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