sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


em tudo há um silêncio assim.
sempre se soube de que
enigmas a tristeza se reveste.
de como tudo é perturbação.
de como toda a beleza é
transcendência.
mesmo que ninguém veja,
mesmo que fique no segredo
dos anjos a nossa acção,
mesmo que a partilha seja,
apenas, nossa
juntei-os sobre a multidão,
para que se saiba
que o que é possível pode até tocar-se.
há um pano espesso
e invisível entre nós e os anjos.
e acredito nas cores.
é isso que não me perdoam,
chamando-lhe indecência
e insinuando que vesti
de vermelho esta mulher.
não é verdade. porque
numa mulher não há pecado.
havia nela, lembro-me,
uma ternura franca pelas coisas.
tu..
em manhãs assim
não sei como escrever
que me lembro de ti um pouco antes
de seres definitivamente mulher.
és hoje, mas não sei, ainda,
como hei-de escrever-te
que guardas na luz o teu contorno marítimo.
tu mesma, um anjo. O teu perfume.
insistir em ouvir a tua voz,
irremediável dimensão
em que tudo se transforma
em algo idêntico ao teu corpo.
na eternidade.
alguma coisa está para acontecer?


Poemas de caravaggio (adapt.)
Amadeu baptista
foto: karina bertoncini

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