não é ainda verdade,
a mão está sobre o seio
mas a luz repousa,
e eu procuro o sobressalto
do coração, a tua lingua,
o suave rumor que se desprende
da boca e mente, mente tremendamente.
não é ainda verdade, sendo que as coxas
cintilam e o sexo pulsa, e o chão principia
a desvanecer-se sob os pés,
enquanto os dedos
se misturam com os teus dedos
e alguma coisa húmida ocorre.
não é ainda verdade, embora um sussurro precipite
no ouvido a frágil lâmina da incandescência
e tu revolvas a delicadeza com contornos
de raiva, lenta raiva, na intrépida brancura do lençol.
não é ainda verdade, mas tudo se insinua
cravam-se as unhas na carne, agita-se a ternura, sorvo
a intensidade do teu cheiro [..]
do teu cabelo solto.
não é ainda verdade, mas a cama levita, o sangue
vibra, o sonho atinge o auge, e as aves desprendem-se
do corpo, ardem no firmamento, numa carícia ardem
para que o furor persista e o combate permaneça.
não é ainda verdade, mas a pulsão amplia-se
como se fosse veludo, e a carne ruge, a carne intensifica
a queimadura do olhar, a dor exemplar,
o rastro de loucura e delícia.
não é ainda verdade, estando muito próxima
a nossa morte simultânea na volúpia
sabemos que uma cintilação obscura nos trespassa
na […] convulsão do reencontro
sentido do desejo.
não é ainda verdade, sendo verdade
que um surto de luxúria nos atinge
para que resista o amor ao extermínio
e sejamos terríveis e divinos.
Lindo…
Poemas de caravaggio
Amadeu baptista
foto: karina bertoncini
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