sábado, 4 de abril de 2009

começo sempre no azul dos dias.
e seguro o sorriso na ponta dos dedos para não se molhar.
vi o teu anjo levantado.
a nudez inteira
no espelho da tua imagem.
anda o teu corpo assim
na forma dos meus passos.
trago-o na abertura dos lábios
e então subo ao lugar mais alto desta noite.
e fico cheio de estrelas e de vento.
apetecer ficar assim
de olhar molhado sobre a mesa.
as mãos na água e a claridade inteira
sobre as mãos.
um rio pelo corpo (que nos deixa respirar)
deixa-nos respirar e quando (respiramos)
abrimos os olhos
e enchemos o olhar (inundado de respiração).
onde estou é o espaço líquido da
cidade, a meia luz suspensa.
na boca um hálito de ontem.
ferida de lábios num

desejo esboçado em rosto.
uma outra pele.
o teu olhar a consumir-me a presença
e a lembrar com extrema delicadeza

que as possibilidades são totais.
a mostrar a verdade na ponta dos dedos
de um corpo substituto.
hoje, comecei de ti.
e foram precisas outras bocas para dizer
as últimas palavras.


a perfeita ocupação do espaço (adapt.)
filipe tereno
foto: daniel oliveira

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