a nudez do silêncio. ouves?
fatalidade exacta do incessante retorno.
a minha amante acariciou-me
a noite inteira.
fez mal.
ontem amei -te mas hoje
o sim é não o não é sim.
amanhã, o azul da lua será mais breve.
tapete instável.
habito nas grutas do sono entre ociosos tesouros.
num devaneio imóvel, invoco o enigma do branco.
mas não o entendo.
talvez a densidade e a leveza suspendam a ausência ilimitada.
tão delicada a voz da água.
já é noite.
ontem repousei em seios efémeros que me seduziram
como se fossem eternos.
fugidia cintura que fluía.
a felicidade era um diadema que latejava sob a pele.
profunda loucura. fomos.
inexpugnáveis sim.
dentro da espessura sem pressa de futuro.
animais nocturnos.
veias do tempo a latejar.
fomos os dois e o espaço de alianças transparentes.
na sala de espelhos apercebiam-se
que vínhamos da lua assim tão leves levitados.
como dizer por palavras a pulsação da pele e
o veludo do ouvido?
há um violento equilíbrio entre o sangue e o sol que
perfura as entranhas.
há no fundo do mar as redondas guitarras que
atravessam os cabelos.
nudez vazia de devaneios sorrisos.
tudo é tão verdadeiro que a realidade quase se
detém no presente.
quanto equilíbrio fatal, quanta delícia.
felicidade que não tem medo nem ilusão
sobre coisa nenhuma.
hoje, enquanto os vizinhos
do andar de cima fazem desesperadamente amor,
penso nos enigmas que mudam em ti todos os dias.
nas longas viagens que fazes ao sul de mim.
da nossa fuga separação.
na praia do meu corpo, uso as poucas palavras possíveis
como quem pesa um pássaro no seu voo.
uma só frase que te resuma. mas, se puderes, dispensa-a.
talvez, talvez a noite não apague esta magia.
duas águas, um rio (adapt.)
antónio ramos rosa e casimiro de brito
foto: emilie bjork
sábado, 28 de fevereiro de 2009
gostava de te ver agora dormir.
dizia-te baixinho que é
dizia-te baixinho que é
tão bom respirar contigo.
deitava-me devagar ao teu lado,
com gestos de algodão,
deitava-me devagar ao teu lado,
com gestos de algodão,
para não te acordar.
e passeava a brincar na tua mão.
desenhava um sorriso nos teus lábios
e passeava a brincar na tua mão.
desenhava um sorriso nos teus lábios
enquanto descia nos teus cabelos,
como um escorrega de criança.
depois, cobria-te de paz,
como um escorrega de criança.
depois, cobria-te de paz,
com o lençol branco,
enquanto me despedia
enquanto me despedia
do teu quarto.
boa noite, meu anjo.
foto: b.berenika
para ti.
ainda que fume
guardo dentro de uma
caixa-de-sapatos
muitas carteirinhas-de-fósforos
e pratas de chocolates e
calendários pequeninos.
ainda prendo os polegares
às presilhas das calças
quando me penteiam para
a fotografia e se como
depressa a sopa é para
chegar à sobremesa
que faço demorada
até ao último bocadinho.
ainda que tenha o gosto dos
banhos demorados e
do vinho ao jantarmos
não sei fazer o laço dos atacadores
e preciso que me ajudes
a atravessar a rua.
bonito. tu.
duas pegadas de água na-chuva
joão do nascimento
foto: emilie bjork
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
conforto que são os dias molhados quando acomodados no sofá, e o rádio tão baixo que não o ouço, e o livro tão planeado, tão fechado que não o leio. ontem jantámos, e por sexta-feira o jantar demorou-se pela garrafa de vinho e pelo corredor e pelos casacos pendurados no cabide do corredor e pelos desenhos sem jeito que ficaram entre nódoas na toalha. tu, com aquela paz feita no papel dos cigarros, fizeste do silêncio um arco de fumo que encheu a mesa e as palavras e no ar o quase sabor da toalha na pele. não percebo o que me dizes, quando num gesto claro namoras nos dedos o cigarro e com um jeito aprendido o chegas à boca, e o fumo parece palavras quanto as aquece, parece ingénuo, e eu, encostado às costas de uma cadeira branca pareço presente. sou capaz de andar um dia inteiro perdida nas ruas e quando olho as montras somos nós que estamos nas montras e quando peço um café deixo as mãos pestanejarem e assim como um livro que guardo, reparo no que reparas a meio do café. sou capaz de falar contigo e de saber dizer o que quero dizer quando falo contigo e guardo caricas e soldadinhos de plástico nos bolsos e o bocadinho de chocolate onde diz Regina, que comi com a pressa dos dedos no desabotoar da prata. é o meu autocarro que cumprimenta a paragem com uma vénia de porta automática, e um até amanhã que fica nos trocos e em cima do balcão uma corrida que é um mar de cerveja onde apago o holofote do cigarro num gesto de que guardo memória. como uma bicicleta deixada no descanso que é a areia da praia quando me enche os sapatos e os acompanha na rua que me leva a casa e no ralo que engole a areia e esta forma de consciência na textura do papel.
duas pegadas de água na-chuva
joão do nascimento
foto:emilie bjork
duas pegadas de água na-chuva
joão do nascimento
foto:emilie bjork
as minhas mãos. as tuas mãos
viagem húmida e lenta na
tua pele de espanto.
desejo. abri-lo-ei só para ti e
para mim. no aroma da luz. na
hábil voz dos teus olhos.
tropeço na sombra das árvores como
uma criatura fechada no escuro há éons.
e nos ecos, reverberações, coros, óperas
ao ouvido, haverá um que responda.
mulher entornada na noite. frágil.
fascinas-me. não sei se já to disse.
a chuva no teu rosto. suprema ironia.
nada adequado a nada. sim, chorei.
já tenho há algum tempo outras saudades.
de ti, lá fora.
e nestas pelo menos quatro dimensões,
seremos só nós a poder entrar. dure o que durar.
foto: emilie bjork
viagem húmida e lenta na
tua pele de espanto.
desejo. abri-lo-ei só para ti e
para mim. no aroma da luz. na
hábil voz dos teus olhos.
tropeço na sombra das árvores como
uma criatura fechada no escuro há éons.
e nos ecos, reverberações, coros, óperas
ao ouvido, haverá um que responda.
mulher entornada na noite. frágil.
fascinas-me. não sei se já to disse.
a chuva no teu rosto. suprema ironia.
nada adequado a nada. sim, chorei.
já tenho há algum tempo outras saudades.
de ti, lá fora.
e nestas pelo menos quatro dimensões,
seremos só nós a poder entrar. dure o que durar.
foto: emilie bjork
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
touch is ten times stronger than verbal or emotional contact, and it affects damned near everything we do. some 1.6 m² of skin surround an adult body, making skin the largest sense organ. because it cannot be 'shut off', it is in a constant state of readiness to receive messages. if we did not like the feel of touching and patting one another we would not have had sex and so, we did not have produced offspring. we always knew that, but we never thought of it as a biological basis.
the genetic basis for touch effects _schanberg, s.
foto: emilie bjork
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
nesta manhã trouxe a tua imagem
com os ruídos da rua.
o rosto fixado, por uns instantes,
o rosto fixado, por uns instantes,
no primeiro café, a devolver a mesma
inquietação que saboreio, enquanto espero que o líquido arrefeça.
por baixo da mesa, sinto o teu pé tocar-me a perna.
puxo-te para fora da moldura.
vamos embora.
por baixo da mesa, sinto o teu pé tocar-me a perna.
puxo-te para fora da moldura.
vamos embora.
para onde fogem os amantes?
em que eternidade repousam?
espaço em branco. entre duas mãos.
espaço em branco. entre duas mãos.
podia ser aí.
mundo impenetrável.
mundo impenetrável.
e não sei como acabá-lo.
e um espelho não se pode
e um espelho não se pode
olhar muito tempo.
porque o céu da manhã é dos que
porque o céu da manhã é dos que
mudam com as variações da alma.
e são as mais estranhas memórias
e são as mais estranhas memórias
as que descem pela parede.
espera que a maré suba,
espera que a maré suba,
para tomares uma decisão.
talvez te apeteça voltar para dentro.
talvez te apeteça voltar para dentro.
pedro, lembrando inês (adapt.)
nuno júdice
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Will you jump up here next to me?
The moon is close and warm and serene
And it's mine for you.
In this cave I have found just for us
Forget your fat it's a pillow soft for my neck
In this cave on the moon built for you
Just for you because you're perfect
O mental patch it swells and shudders
All your skin and hair in moonlight
With a hole in the roof
Where we can watch our planet circle away.
Will you touch the cave's cream stone walls?
Here I'll hold your tender years
And they're mine your youth is mine in this cave.
So jump up here onto the closer moon.
I'll have the food and downy warmth.
Your love will rear a family in this cave on the moon.
Where we can watch our planet circle away and come back.
In this cave on the moon.
in a a cave
kitchens of distinction
foto: b.berenika_'brothers'
The moon is close and warm and serene
And it's mine for you.
In this cave I have found just for us
Forget your fat it's a pillow soft for my neck
In this cave on the moon built for you
Just for you because you're perfect
O mental patch it swells and shudders
All your skin and hair in moonlight
With a hole in the roof
Where we can watch our planet circle away.
Will you touch the cave's cream stone walls?
Here I'll hold your tender years
And they're mine your youth is mine in this cave.
So jump up here onto the closer moon.
I'll have the food and downy warmth.
Your love will rear a family in this cave on the moon.
Where we can watch our planet circle away and come back.
In this cave on the moon.
in a a cave
kitchens of distinction
foto: b.berenika_'brothers'
na margem interior da fronteira,
que outros preferem chamar beco sem saída,
-B. matou-se.
claro que todas as fronteiras são mentais,
e no caso de B. melhor seria falar de duas.
de modo que B. se matou entre a margem
interior e a crista de um pensamento que
já não se desviava dele.
para catapultar-se, tomou aquelas raízes de
um alcalóide que tinha classificado, e,
lançando-se sobre a enxerga de troços fusiformes, encontrou por fim o que buscava: rua de uma só direcção em que todos os números estão apagados, e os brancos pedúnculos mentais desvanecem-se numa matéria de sonho.
(mandrágora)
pedro marqués de armas_'cabeças'
sábado, 21 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
que bom café ontem no Progresso.
com história.
'os teus olhos castanhos baixos, a tua voz nesse tom suave que se enrola devagarinho no meu ouvido. gosto quando escolhes este restaurante, essa mesa do meio da sala, o atrevimento das nossas pernas sob todos os olhares. mastigo devagar, demoro a pousar os talheres. podíamos fingir que os dias não passam destes volteios e cheiro a perfume na curva do pescoço. os corpos que se descobrem, o teu, o meu. a procurar ritmos. e se saíssemos? passageiro prazer que tanto tempo depois ainda nos abre a pele inteira. imagino que estou aqui, as minhas mãos nas tuas costas, pedaços de lençóis emaranhados entre as coxas. a boca aberta, a imitar pernas, traços vermelhos nos pulsos, um cheiro tão doce e um grito livre no fundo da garganta. e, depois de tanto, os corpos atirados para o lado, esquecidos um do outro, sustidos num forte aperto de mãos, engolidos pelos sonhos.'
conta
ângela baptista
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
sei que és de noite
e que espreitas
todas as noites
enquanto me dou.
e a carne dilui
na chuva de gente.
fica uma poça de mim,
todas as noites,
que recolho, com mãos frias.
e entrego-me pela manhã,
à tua porta, pelo meio
das grades e dos néons.
enquanto fumas.
caminho depois para
um café à beira mar.
foto: adriano batista
e que espreitas
todas as noites
enquanto me dou.
e a carne dilui
na chuva de gente.
fica uma poça de mim,
todas as noites,
que recolho, com mãos frias.
e entrego-me pela manhã,
à tua porta, pelo meio
das grades e dos néons.
enquanto fumas.
caminho depois para
um café à beira mar.
foto: adriano batista
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
e há palavras nocturnas
palavras gemidos
palavras que nos sobem
ilegíveis à boca
palavras diamantes
palavras nunca escritas
palavras impossíveis
de escrever
por não termos connosco
cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo
nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes
escrevem muito alto
muito além do azul
you are welcome to elsinore
mário cesariny
foto:PaulolisboA
é como digo e sei:
sempre bonita.
como quereríamos,
talvez não houvesse
mundo suficiente.
talvez.
é sempre assim
nas coisas que importa.
neste mundo.
tempos verbais suspensos
entre qualquer coisa de presente e impossível. há tempos assim, sem respirar. de sonho. de talvez. temperamental. de nada de amanhã. de ser só. sem trampolim na magia da noite. sózinha de mim. entendo-te. porque me habituei a acordar (-te) a meio da noite à procura. quantas vezes, hoje? hoje, muitas. ontem, o nada. e até para o nada há palavras. lembro-me de todos os pormenores de uma boneca que tive. de quando tinha a idade de não me lembrar de a ter recebido. lembro-me apenas de gostar dela. tanto que sei todos os pormenores. principalmente das pernas às riscas. adorava aquele vermelho. ‘esta coisa de ouvir e descobrir música a partir do que ouves. genuíno’. num ‘mecanismo semelhante’, leio-o e ouço-te. e acho que tem razão. ‘acabamos por estar de algum modo relacionados com um conjunto tremendo de absolutos (ou quase) desconhecidos, a quem sorrimos apenas por frequentarmos o mesmo autocarro.’ e esses sorrisos fazem-nos abdicar rapidamente de ter vida, diz ele. ou senti-la, digo eu. lembrei-me das tuas palavras. de grito. do tanto que precisas de fugir. mesmo que digas que gostas de ver. e, curioso, veio-me a imagem daquela janela no verão. antes de todos entrarem. tive uma sensação de conforto nesse lugar-comum.
sempre bonita.
como quereríamos,
talvez não houvesse
mundo suficiente.
talvez.
é sempre assim
nas coisas que importa.
neste mundo.
tempos verbais suspensos
entre qualquer coisa de presente e impossível. há tempos assim, sem respirar. de sonho. de talvez. temperamental. de nada de amanhã. de ser só. sem trampolim na magia da noite. sózinha de mim. entendo-te. porque me habituei a acordar (-te) a meio da noite à procura. quantas vezes, hoje? hoje, muitas. ontem, o nada. e até para o nada há palavras. lembro-me de todos os pormenores de uma boneca que tive. de quando tinha a idade de não me lembrar de a ter recebido. lembro-me apenas de gostar dela. tanto que sei todos os pormenores. principalmente das pernas às riscas. adorava aquele vermelho. ‘esta coisa de ouvir e descobrir música a partir do que ouves. genuíno’. num ‘mecanismo semelhante’, leio-o e ouço-te. e acho que tem razão. ‘acabamos por estar de algum modo relacionados com um conjunto tremendo de absolutos (ou quase) desconhecidos, a quem sorrimos apenas por frequentarmos o mesmo autocarro.’ e esses sorrisos fazem-nos abdicar rapidamente de ter vida, diz ele. ou senti-la, digo eu. lembrei-me das tuas palavras. de grito. do tanto que precisas de fugir. mesmo que digas que gostas de ver. e, curioso, veio-me a imagem daquela janela no verão. antes de todos entrarem. tive uma sensação de conforto nesse lugar-comum.
no soy dueña de nada
mucho menos podría serlo
de alguien.
no deberías temer
cuando estrangulo tu sexo,
no pienso darte hijos
ni anillos ni promesas.
toda la tierra que tengo
la llevo en los zapatos.
mi casa es este cuerpo
que parece una mujer,
no necesito más paredes
y adentro tengo mucho espacio:
ese desierto negro
que tanto te asusta.
bella durmiente
bella durmiente
miriam reyes
foto: rita rocha
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
dói muito.
começo sempre os livros
do fim para o princípio,
tu sabes.
talvez porque tenho medo.
medo dessa palavra.
e hoje, os dedos pararam.
e pareciam uma criança
a chorar muito.
mas decidimos dar-lhe
um final feliz. e o nosso
final dizia assim:
"és tão bonita. no mundo,
deve haver um jardim
tão bonito como tu.
eu sorri tanto. fui feliz e,
nesse momento, morri."
('a casa, a escuridão', josé luis peixoto)
desta vez, não tenho uma
imagem para nós.
guardei-nos. tive medo
do fim do livro.
começo sempre os livros
do fim para o princípio,
tu sabes.
talvez porque tenho medo.
medo dessa palavra.
e hoje, os dedos pararam.
e pareciam uma criança
a chorar muito.
mas decidimos dar-lhe
um final feliz. e o nosso
final dizia assim:
"és tão bonita. no mundo,
deve haver um jardim
tão bonito como tu.
eu sorri tanto. fui feliz e,
nesse momento, morri."
('a casa, a escuridão', josé luis peixoto)
desta vez, não tenho uma
imagem para nós.
guardei-nos. tive medo
do fim do livro.
naquela rua, tudo parece feito à mão.
rua de números, não de nomes.
onde pedir 'uns' parafusos parece tão
idiota a quem responde pela sabedoria
do ter sido sempre dali. ali.
‘tamanhos, composições, funções...'
comprar parafusos torna-se
efectivamente uma tarefa tão central
na aparente ilusão do acordar
apressado, para um tempo entre
qualquer coisa sem nome porque,
sem importância, pensamos.
no emaranhado de caixas de cartão,
latas gastas, papéis manuscritos
e cheiro, o cheiro a escuro e a ferrugem.
‘ao peso, vendem-se ao peso’...
inacreditável como a história
aparece colada aos passeios.
ou recuamos estranhamente no tempo,
não sei.
e onde há mãos a fazer contas à mão.
certas, porque se fala verdade.
menina numa rua crua, de paredes velhas.
não de tempo. de alma.
e há uma verdade no ‘obrigado, menina’.
e um encanto nesta simplicidade,
de prateleiras caóticas e jogos de
perde-encontra nas coisas de essência.
por mãos que sabem tudo, tudo de cor.
é um tempo diferente, o daquela rua.
rua de números, não de nomes.
onde pedir 'uns' parafusos parece tão
idiota a quem responde pela sabedoria
do ter sido sempre dali. ali.
‘tamanhos, composições, funções...'
comprar parafusos torna-se
efectivamente uma tarefa tão central
na aparente ilusão do acordar
apressado, para um tempo entre
qualquer coisa sem nome porque,
sem importância, pensamos.
no emaranhado de caixas de cartão,
latas gastas, papéis manuscritos
e cheiro, o cheiro a escuro e a ferrugem.
‘ao peso, vendem-se ao peso’...
inacreditável como a história
aparece colada aos passeios.
ou recuamos estranhamente no tempo,
não sei.
e onde há mãos a fazer contas à mão.
certas, porque se fala verdade.
menina numa rua crua, de paredes velhas.
não de tempo. de alma.
e há uma verdade no ‘obrigado, menina’.
e um encanto nesta simplicidade,
de prateleiras caóticas e jogos de
perde-encontra nas coisas de essência.
por mãos que sabem tudo, tudo de cor.
é um tempo diferente, o daquela rua.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
chove muito.
posso trepar por cima de ti?
posso trepar por cima de ti?
nas inclinações breves
de um beijo no ombro.
de um beijo no ombro.
perguntavas-me agora como.
mas já senti tudo o que tinha a sentir...
senta-te agora, neste sofá vermelho,
ou naquela cadeirinha tua, minha, nossa.
fim. deitados. como no colo.
temos uma lista interminável.
e também sem início.
e nestas quatro noites, escrevi na parede,
dá para acreditar? e na pele, na tua.
mastiguei-te. muitas vezes.
o projeccionista. longe.
sabes, temos de fazer o milagre.
no espaço de um.
vou tirar o meu relógio e contar
um, dois segundos para te adormecer.
mas já senti tudo o que tinha a sentir...
senta-te agora, neste sofá vermelho,
ou naquela cadeirinha tua, minha, nossa.
fim. deitados. como no colo.
temos uma lista interminável.
e também sem início.
e nestas quatro noites, escrevi na parede,
dá para acreditar? e na pele, na tua.
mastiguei-te. muitas vezes.
o projeccionista. longe.
sabes, temos de fazer o milagre.
no espaço de um.
vou tirar o meu relógio e contar
um, dois segundos para te adormecer.
(naquele instante, da tua forma,
do teu tamanho. conheço-o, agora)
e entras no sonho de rebuçados e
chupas vermelhos e brancos em rodinhas,
daqueles que deixam e a língua pintada
com sabor a bom.
nesse teu sonho, também há beijos,
e entras no sonho de rebuçados e
chupas vermelhos e brancos em rodinhas,
daqueles que deixam e a língua pintada
com sabor a bom.
nesse teu sonho, também há beijos,
pausas, tremuras. o que quiseres e
o que não quiseres.
e há bichos. daquela estirpe estranhíssima
e estranhona que ama muito,
e há bichos. daquela estirpe estranhíssima
e estranhona que ama muito,
muitos ao mesmo tempo.
nos sítios improváveis,
nos sítios improváveis,
daqueles que mexem comigo.
nesta ficção do corpo a ir e a
vir com as ondas.
nunca vi nada tão perfeito.
essa macieza, a que recordei.
e tenho saudades. das esquinas de livros.
de vozes gravadas.
onde me contaste em passinhos.
e foi aí, quando encontraste a minha alma,
nesse cantinho da boca entreaberta,
vir com as ondas.
nunca vi nada tão perfeito.
essa macieza, a que recordei.
e tenho saudades. das esquinas de livros.
de vozes gravadas.
onde me contaste em passinhos.
e foi aí, quando encontraste a minha alma,
nesse cantinho da boca entreaberta,
que paraste a tarde.
perguntei-te onde estaremos
daqui a um mês.
com o meu peito nas tuas costas.
onde não haveria motivo explicável
para o que seria notado.
numa alquimia de santos. gigantes.
vem, leva-me a casa.
daqui a um mês.
com o meu peito nas tuas costas.
onde não haveria motivo explicável
para o que seria notado.
numa alquimia de santos. gigantes.
vem, leva-me a casa.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
as tuas mãos. ou a tua pele. ou os teus lábios.
o teu olhar. o teu olhar lembra-me sempre que
ou os teus cabelos, ou a maneira exacta como
o teu rosto. o teu rosto. ou o teu corpo que
adormece onde o vento não se esqueceu de
ou cada uma das tuas palavras, palavras,
palavras numa língua de céus impossíveis.
a casa, a escuridão
josé luis peixoto
foto: martiksno_'atuanu'
o teu olhar. o teu olhar lembra-me sempre que
ou os teus cabelos, ou a maneira exacta como
o teu rosto. o teu rosto. ou o teu corpo que
adormece onde o vento não se esqueceu de
ou cada uma das tuas palavras, palavras,
palavras numa língua de céus impossíveis.
a casa, a escuridão
josé luis peixoto
foto: martiksno_'atuanu'
la nuit éclaire un peut ton visage.
il y a une telle sagesse dans la nuit,
comprenez-vous, un tel éclat.
en un simple cadeau.
quelques enfants ont des fleurs
dans leurs bras ou protégent une étoile.
dans ma maison, si vous venez un jour,
je ne sais pas, pour une visite,
une simple rencontre,
pour me raconter une histoire,
un mensonge, une fable,
vous apercevrez dans l’âtre éteint,
un petit tas de cendres où sont enfouis
des mots de tous les jours, des phrases,
et peut-être un grand rêve.
la mort est en feu
joël vernet
foto: karina bertoncini
não sei muitos tecidos sobre a pele.
o dia coagula azul. assim
na periferia de uma mulher.
pele. para absorver.
quando ela fala tem o mar dentro.
essa obsessão aquática. uma
quase orgia. quase doce.
corro todos os riscos de anacronismo assim.
quando a tarde vai morrendo
no vagar mal iluminado dos dedos.
ali deixada. a mulher. aquela mulher. dizê-la.
nessa invasão irreal dos ombros.
ausente silêncio de toda a tarde
construindo o corpo.
circum-navegação da paz. nunca tocada.
tem a mão fechada para não entrar o ar.
não sei dizer o mais porque não vi.
dos olhos dela. desdobrando-se sonhada.
se eu não soubesse o que dizer-te
e despisse o teu corpo. devagar.
onde as minhas pernas também.
como um jardim húmido. aqui.
e eu grande.
de ti quando te deitas repousa
um anjo sem memória. assim.
quero que passes pelo meu ventre.
e fiques. sim. fico. torno-me profunda: apenas pele.
o seu início nos pulsos.
as tuas mãos resvalam entre o ar e a perfeição.
tu sabes. tu. afastas-me da dor como
das brincadeiras infantis e incompletas.
por isso venho.
para memorizar tangerinas com
pingos gordos de groselha
numa luz amarela de inverno.
torna-se quase impossível pensar quão
assustadoramente fácil é a morte.
a lentidão dos gestos.
os seus vestígios materiais.
a sua inaudível voz.
como marcar a distância.
também a bifurcação da paisagem.
eu sei que vou amar-te talvez até
suspensa em gritos de pássaro:
o corpo que amanhece o azul.
abreviado fica apenas o mar.
queria um jardim suspenso. queria.
sonho muitas vezes um sonho de mim
despindo-me devagar.
lindíssimo..
entre o ar e a perfeição (adapt.)
teresa leonor do vale
foto: martikson_’shadow of night’
o dia coagula azul. assim
na periferia de uma mulher.
pele. para absorver.
quando ela fala tem o mar dentro.
essa obsessão aquática. uma
quase orgia. quase doce.
corro todos os riscos de anacronismo assim.
quando a tarde vai morrendo
no vagar mal iluminado dos dedos.
ali deixada. a mulher. aquela mulher. dizê-la.
nessa invasão irreal dos ombros.
ausente silêncio de toda a tarde
construindo o corpo.
circum-navegação da paz. nunca tocada.
tem a mão fechada para não entrar o ar.
não sei dizer o mais porque não vi.
dos olhos dela. desdobrando-se sonhada.
se eu não soubesse o que dizer-te
e despisse o teu corpo. devagar.
onde as minhas pernas também.
como um jardim húmido. aqui.
e eu grande.
de ti quando te deitas repousa
um anjo sem memória. assim.
quero que passes pelo meu ventre.
e fiques. sim. fico. torno-me profunda: apenas pele.
o seu início nos pulsos.
as tuas mãos resvalam entre o ar e a perfeição.
tu sabes. tu. afastas-me da dor como
das brincadeiras infantis e incompletas.
por isso venho.
para memorizar tangerinas com
pingos gordos de groselha
numa luz amarela de inverno.
torna-se quase impossível pensar quão
assustadoramente fácil é a morte.
a lentidão dos gestos.
os seus vestígios materiais.
a sua inaudível voz.
como marcar a distância.
também a bifurcação da paisagem.
eu sei que vou amar-te talvez até
suspensa em gritos de pássaro:
o corpo que amanhece o azul.
abreviado fica apenas o mar.
queria um jardim suspenso. queria.
sonho muitas vezes um sonho de mim
despindo-me devagar.
lindíssimo..
entre o ar e a perfeição (adapt.)
teresa leonor do vale
foto: martikson_’shadow of night’
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see you.
there's a bluebird in my heart
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
there's a bluebird in my heart
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die and we sleep together like
that with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do you?
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see you.
there's a bluebird in my heart
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
there's a bluebird in my heart
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die and we sleep together like
that with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do you?
bluebird
charles bukowski
foto: martikson_'in silence'
queria contar-te..
fiz amor com as tuas mãos,
fiz amor com as tuas mãos,
tu sabes, adoro os teus dedos.
encostada ao teu peito, a tremer.
com o medo da entrega, pensamos.
acalmámo-nos com as brincadeiras parvas,
inventadas de urgência.
contaste os momentos que pararam a tarde?
eu contei.
como quando as estrelas-cadentes
desmaiam na água.
viste?
viste a luz do rio?
o teu cigarro acalmou-me.
e pareceu pesada a roupa
quando aceitaste a minha capa nua.
contar-te como foi
caminhar na tua face devagarinho.
de olhos fechados,
para não te deixar fugir.
tão próximo das bocas, o silêncio.
abre um bocadinho, para te poder dizer
que és tão bonito.
depois fecha-a. com esse sorriso.
sei que não gostas de dança mas,
queria que me visses agora.
com as pontas dos pés
nas margaridas pequeninas.
vês as horas? passa sempre tão depressa..
depois conto-te.
encostada ao teu peito, a tremer.
com o medo da entrega, pensamos.
acalmámo-nos com as brincadeiras parvas,
inventadas de urgência.
contaste os momentos que pararam a tarde?
eu contei.
como quando as estrelas-cadentes
desmaiam na água.
viste?
viste a luz do rio?
o teu cigarro acalmou-me.
e pareceu pesada a roupa
quando aceitaste a minha capa nua.
contar-te como foi
caminhar na tua face devagarinho.
de olhos fechados,
para não te deixar fugir.
tão próximo das bocas, o silêncio.
abre um bocadinho, para te poder dizer
que és tão bonito.
depois fecha-a. com esse sorriso.
sei que não gostas de dança mas,
queria que me visses agora.
com as pontas dos pés
nas margaridas pequeninas.
vês as horas? passa sempre tão depressa..
depois conto-te.
foto: martikson_'girl with a flower'
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